Dando continuidade ao artigo anterior vem a pergunta:

A cirurgia de remoção dos sisos dói?

Não, a dor não faz parte do procedimento, ou não deveria fazer. O que ocorre de fato é que os anestésicos locais utilizados na Odontologia, em suas concentrações e quantidades administradas, conseguem retirar a sensação dolorosa do paciente, porém não retiram a sensação de toque ou de pressão nos elementos dentários. O que pode ser confundida durante o procedimento, principalmente por pacientes mais ansiosos.

Quais as opções para realização da cirurgia?

Há várias opções para a realização do procedimento, tudo vai depender do grau de dificuldade de cada dente, proximidade com nervos, riscos de fraturas e complicações.

Volto a dizer: uma boa cirurgia depende de uma boa avaliação pré-operatória, por isso deve-se procurar um profissional capacitado para planejar da melhor forma o procedimento.

Nessa avaliação serão analisados os riscos da cirurgia, como por exemplo pacientes com problemas cardíacos ou com idade avançada, onde pedimos exames laboratoriais com o intuito de avaliar se o paciente terá problemas quando receber a substância anestésica, ou se o trauma cirúrgico pode desencadear algum outro problema mais grave ao paciente. Após todo esse exame criterioso o profissional vai determinar se o procedimento pode ser feito sob anestesia local em consultório (mais habitual), no hospital sob anestesia geral (com todo o suporte médico) por alguma limitação do organismo do paciente ou riscos de complicações como fraturas mandibulares ou sob sedação consciente (com o auxílio do anestesista) em casos de pacientes ansiosos. Além de individualizar cada caso, passando medicações pré-operatórias para prevenir infecções, edemas e diminuir ansiedade.

Quanto tempo dura o procedimento?

É difícil prever um tempo exato para extrações, porém leva-se em média de 45 minutos a 1 hora para a retirada de um lado (um siso superior e um inferior). Evita-se fazer os quatro sisos de uma vez por conta do desconforto no pós-operatório do paciente (edema, hematoma, quantidade anestésica, dificuldade de mastigar dos dois lados) porém há pacientes que querem um pós-operatório só, usar medicação só uma vez, e por isso escolhem a retirada de todos em uma única sessão.

O que se deve ter em mente, não só para os pacientes quanto para os cirurgiões, é que um profissional bem treinado entrará em uma cirurgia preparado para todas as situações que possam vir a ocorrer durante o procedimento, sejam elas complicações ou variações anatômicas, e nem sempre resolver o problema do paciente, ou seja extrair o dente a qualquer custo, seja a solução.

Horas de cirurgia, quantidades elevadas de anestésicos, desconforto pela quantidade de tempo de boca aberta, danos ao nervo, são coisas que podem ser evitadas quando se tem um bom planejamento e quando se dispõe do conhecimento de técnicas indicadas.

Então há a possibilidade de deixar parte do meu dente lá?

Sim, há uma possibilidade de se remover apenas parte do seu dente e deixar outra parte. Essa técnica se chama de coronectomia ou odontectomia parcial, que remove parte da coroa e deixa parte das raízes inseridas no osso. Alguns fatores são indispensáveis para o uso dessa técnica como: um dente livre de infecção, cistos ou tumores e um dente sem mobilidade das raízes. Essa técnica é bastante utilizada quando na avaliação inicial já se nota um intimo contato das raízes com o canal mandibular (onde passa o nervo que dá a sensibilidade a parte do lábio e eventual parte da língua), quando as raízes estão muito baixas próximo a base da mandíbula (apresentando risco de fratura de mandíbula).

Deve sempre ser repassado ao paciente um termo de consentimento a ser assinado previamente a cirurgia. Porém, somente durante o procedimento o profissional deverá avaliar e tomar uma decisão quanto a conduta a ser realizada.

E aí vai um questionamento aos cirurgiões: será que vale a pena expor o paciente a procedimentos longos de 2 a 3 horas, com riscos de danos ao nervo, excessivo desgaste ósseo para remover uma raiz, do que um procedimento de 1 hora, mantendo as raízes e proservando (acompanhando) esse paciente? Vale a reflexão.

Ao paciente, parte do dente que ficar poderá ser coberta por osso e permanecer ali para sempre, ou o organismo tende a expulsar e quando tiver na superfície, longe de riscos, um procedimento menor é feito para retirar aquela parte que restou (há relatos científicos que SE vier a ocorrer, será geralmente por volta de 6 ou 7 anos depois da primeira intervenção).

Procure um cirurgião de confiança e treinado que saiba identificar e planejar o seu caso para um melhor conforto cirúrgico e um procedimento sem traumas.

E depois da cirurgia? Quanto tempo para me recuperar?

O pós-operatório é algo particular de cada paciente e cada organismo reage de uma forma. Porém, como em todo procedimento cirúrgico, é esperado o edema nos primeiros 4 ou 5 dias, ficar roxo por conta do hematoma, um pouco de desconforto após passar o efeito da anestesia, porém não é regra e tem pacientes que reagem diferentemente.

Em todo caso, ao terminar o procedimento o paciente é orientado a uma dieta mais líquida/ pastosa, fria ou gelada (para um conforto maior) nas primeiras 48h e compressa com gelo nas primeiras 24h (após esse período não há relatos científicos da melhora do edema). Tomar as medicações antes do término do efeito da anestesia como antibióticos, anti-inflmatórios e analgésicos, evitar esforços físicos (para não aumentar a pressão sanguínea e sangrar mais), evitar cuspes e bochechos (para não remover o coágulo) e repouso de mais ou menos 3 dias, onde o paciente já pode ir retornando à sua vida normal, porém sem atividade física por um período de 7 dias, até remover os pontos.

Em resumo…

A extração dos sisos, como qualquer outra cirurgia, não é um procedimento simples de se fazer, porém está longe de ser o pesadelo que muitos pacientes idealizam por aí.

Hoje em dia com os avanços da tecnologia e da ciência, conseguimos desenvolver anestésicos mais potentes e com maior duração do efeito, equipamentos cirúrgicos mais específicos e com melhor desempenho, protocolos medicamentosos mais eficientes, técnicas cirúrgicas aperfeiçoadas e exames de imagens com maiores detalhes, promovendo ao paciente uma maior segurança e um maior conforto na realização do procedimento.

Todavia o que vai determinar a eficácia de todos esses fatores é a escolha do profissional que realizará o procedimento. Portanto, estude, pesquise, se informe e tenha referências antes de tomar qualquer decisão para que essa experiêrncia não seja traumática e aconteça da melhor forma para o seu bem-estar.

Escrito pelo Prof. Dr. Antenor Araújo – Cirurgião Bucomaxilofacial